Rock Textos Especial:

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Documentário: O Rock Sergipano: Esse Ilustre Desconhecido.
Descripción: Vídeo-documentário que traz um recorte do cenário rock and roll de Sergipe. É uma rápida leitura do movimento cultural local a partir dos anos 80 até meados de 2004. .::FICHA TÉCNICA::. Direção: Werden Tavares Tipo: Documentário Formato: Vídeo (DV) Ano Produção: 2004 Origem: Brasil (SE) Cor / PB: cor/pb Duração: 19 min. Elenco: Rafael Jr., Adelvan Knowbi, Plastico Jr., Tiago ´Babaloo´, Sylvio, Alexandre Chacal, Cicero, Daniel Torres, Deon Lacertae Roteiro: Werden Tavares Fotografia: Werden Tavares Assistência de Fotografia: Moijan Vinícius, Hans Hagenbeck Operador de Câmera: José Sérgio, Werden Tavares Direção de Arte: Renata Voss Montagem/Edição: Márcio Venâncio Música: Snooze, Maria Scombona, Karne Krua Som:Márcio Venâncio, Werden Tavares Edição de Som:Márcio Venâncio Continuidade: Werden Tavares Produção Executiva: Hans Hagenbeck Produção: Werden Tavares, Hans Hagenbeck, Obrigado ao Pessoal lá de casa, a Renata Voss Valeu, as Bandas, os Entrevistados, os valentes funcionários do CCS...ao Hans.
O Rock Sergipano, Esse Desconhecido:
"Underground" é um termo em inglês que serve para designar aquilo que se encontra embaixo do solo. O metrô, por exemplo, em muitos lugares é chamado de underground. Com o tempo, os críticos musicais se apropriaram deste termo para designar a musica que era feita à margem do grande circuito da mídia. A mídia, em todo o mundo e, como não poderia deixar de ser, também em nosso país, se concentra onde está o dinheiro, literalmente, ou onde se encontram os centros de poder econômico e de decisão política, no nosso caso, sul e sudeste e eventualmente Brasília. Partindo-se desse ponto de vista, poderíamos dizer que qualquer manifestação artística nascida em nosso estado (com exceção, vá lá, da Calcinha Preta, que tem projeção nacional) é underground, porque está longe dos holofotes da mídia, num âmbito geral. Mas existem correntes artísticas que se desenvolveram ao largo mesmo aos olhos da mídia local. Este, poderíamos dizer, é o nosso submundo, o submundo do submundo. Nele se encontra o rock sergipano, esta entidade misteriosa que, a despeito de ser quase que completamente desconhecido, existe, produz e se reproduz, ao ponto de começar a ser, timidamente, notado e reconhecido.
O rock sergipano como um movimento, uma entidade oriunda da existência de várias bandas que tocam juntas e dão suporte umas às outras, começou a se formar no inicio dos anos 80, de carona na grande onda do rock nacional, que por sua vez surgiu na esteira da onda pos-punk/new wave que tomava conta do mundo. Por essa época começavam a se formar bandas de garagem que tinham na precariedade de recursos e na vontade de criar e se comunicar suas principais características. Capitaneadas pela figura de verdadeiros agitadores culturais dos subterrâneos, como Sylvio “Suburbano” e Vicente “Coda”, surgiram nomes como Sem Freio na Língua, Fome Africana e The Merdas. Esta ultima, por sinal, contava em suas fileiras, como baterista, com o hoje nacionalmente conhecido Hélder “Podre”, mais conhecido pelo nome artístico de DJ Dolores. Vicente promovia festivais conhecidos na época como rockadas - um deles, inusitadamente, realizado em sua própria casa - e Sylvio seguia a passos largos em direção a uma militância anarquista que o levou ao mundo do punk rock engajado. Juntos, os dois formaram a Karne Krua, a mais antiga das bandas sergipanas em atividade até o momento.
A partir dessas atitudes pioneiras outros grupos foram nascendo, e de diversas matrizes, como a new wave propriamente dita, com CROVE HORRORSHOW, LULU VIÇOSA, ALICE e a já citada FOME AFRICANA, o punk rock/hardcore, com KARNE KRUA, MANICÔMIO, FORCAS ARMADAS, CONDENADOS e LOGORRÉIA, entre outros, e correndo por fora, numa cena à parte, como sempre, o mundo do metal, que tinha como seu maior nome o lendário GUILHOTINA. Os espaços para apresentação eram precários, mas as tribos tinham seus pontos de encontro, notadamente as lojas especializadas DISTÚRBIOS SONOROS e LOKAOS e inclusive contaram, durante um certo período, com o apoio de um programa especializado na Rádio Atalaia FM. Chamava-se ROCK REVOLUTION, era produzido pela loja Distúrbios sonoros e costumava, sempre que a qualidade de gravação permitia, ceder espaço para as bandas locais.
Com o tempo a maioria dos grupos foi se dissolvendo e seus membros sendo absorvidos pelo “sistema”, mas alguns resistiram. A Karne Krua é o exemplo maior de persistência e fidelidade à cena, tanto local quanto nacional. Ao seu redor foi surgindo uma nova onda de hardcore sergipano, materializada principalmente nas bandas SUBLEVAÇÃO, CLEPTOMANIA, OLHO POR OLHO e LECKTOSPINOISE, além de um sem-número de grupos que seguiam uma tendência ainda mais rápida e barulhenta do estilo conhecida como grindcore, dentre elas REFUGOS DE BELSEN, CAMBOJA, e ANAL PUTREFACTION . Aos poucos, esta última foi se aproximando do Death Metal, enquanto o Camboja, capitaneado na figura de seu líder e multiinstrumentista Jamson Madureira, começa a sofrer influencias do rock industrial à la Ministry e Nine Inch Nails, tornando-se a mais inovadora e, talvez por isso mesmo, injustiçada banda da história do rock sergipano. Teve uma carreira curta mas deixou um belo legado de energia e criatividade para quem conheceu suas demos (GRIND TO GRIND, LIES ABOUT FREEDOM) e frequentou suas apresentações, sempre antológicas.
Já no front do metal, na primeira metade da década passada, despontava a DEUTERONÔMIO, fundada ainda nos anos 80 por Vicente Matheus, o Bruxo (de saudosa memória). A banda teve uma carreira sólida e constante até a metade dos anos 90 e influenciou toda uma cena, com nomes como MUCOUS SECRETION e a DEVILRY, de Itabaiana. No metal tradicional havia o WARLORD, e no thrash metal, AGONY SEASON, RUST MAKERS e METÁFORA (formada por um membro dissidente do Camboja).Foi ainda no inicio dos anos 90, em parte como fruto da explosão alternativa causada pelo Nirvana, que surgiu o SNOOZE, hoje uma das bandas sergipanas mais conceituadas e conhecidas nacionalmente, ao lado do LACERTAE, de Lagarto. Ambas começaram a mesma época e fazendo covers, a primeira de medalhões do grunge e do rock alternativo, a segunda de Pantera e outros ícones do metal, mas foram aos poucos adquirindo sonoridade e personalidade própria, especialmente o Lacertae, que é reconhecido como um dos grupos mais inovadores do rock independente nacional. Foi por essa época que a Karne Krua conseguiu o feito de ser a primeira banda underground do estado a lançar um disco, ainda em vinil e totalmente independente.
Ficaram célebres os shows promovidos pelo pub MAHALO DISCO CLUB, simpático barzinho localizado no centro, em frente à UNIT, que começou a abrir espaço para as bandas de rock locais nos finais de se mana, e o fervilhante movimento de fanzines sergipanos, que já tinha uma certa tradição desde o CENTAURO SEM CABEÇA (de Macaô) e BURACAJU (de Sylvio, sempre pioneiro), nos anos 80, e se fortaleceu à época com os nacionalmente conhecidos ESCARRO NAPALM (editado por mim, Adelvan, depois vocalista do ETC) e CABRUNCO (que era editado por Adolfo sá e se tornou um verdadeiro marco).Na cena grindcore/noise surgiu a banda ETC, que tinha uma proposta mais irreverente e ousada. Foi a primeira a ultilizar-se de influências regionalistas em sua musica (bem antes de alguém por aqui saber o que era Raimundos ou mangue Beat) e a usar e abusar de palavrões e de temas ligados ao sexo e a sacanagens em geral, conseguindo bater de frente com punks e puritanos de uma só vez. Sua proposta anárquica radical foi mal compreendida na época e segue incompreendida até hoje, nos shows esporádicos que promove com o único intuito de manter a lenda viva e provocar os que se entregam à apatia e aos modelos de comportamento, mesmo no mundo do rock, que a princípio deveria ser dinâmico e anárquico por natureza. Vale dizer que a grande figura por trás dessa e de outras bandas era, mais uma vez, a de Sylvio “Suburbano”, que depois do fim das atividades regulares do ETC seguiu sua saga em busca da renovação do harcore montando bandas como A CASCA GROSSA e WORDS GUERRILLA.
Por volta da segunda metade da década, a movimentação no underground diminuiu, mas começou a se vislumbrar um novo patamar para a cena como um todo. O marco dessa nova etapa foi a realização do Festival ROCK-SE, que trouxe pela primeira vez ao estado um evento nos moldes dos já consagrados Juntatribo e Abril pro Rock, com bandas nacionalmente reconhecidas tocando lado a lado com os representantes da cena local. O ROCK-SE não teve continuidade, mas lançou a semente para um novo paradigma no nível de organização e, especialmente, ousadia dos produtores de shows que o sucederam. Começaram a aparecer mais bandas de fora do estado dispostas a se apresentar aqui, o que deve ter influenciado o surgimento de uma nova geração do punk rock sergipano, dessa vez mais sintonizada com as tendências mundiais colocadas na vitrine por megacorporações como a MTV e, por isso mesmo, ideologicamente descompromissadas e com um apelo popular mais amplo.Tendo como pano de fundo a verdadeira revolução das comunicações que se consolidava na virada do milênio, o que parecia impossível na década de 80 aconteceu na primeira metade dos anos 2000: o rock foi sendo aparentemente melhor assimilado e foi capaz de levar verdadeiras multidões a shows que antes eram freqüentados por, no máximo, 20 a 30 pessoas. E com um importante fator adicional: as mulheres comparecendo e aparecendo. Houve inclusive uma banda exclusivamente feminina, LILY JUNKIE, a primeira do estado a manter uma atividade regular, fazendo shows e lançando demos. Apesar de um posterior recrudescimento na freqüência do público, o que inviabilizou a continuidade de projetos importantes como o Festival PUNKA, novos nomes surgiram, como FLUSTER (HC melódico), TRISTE FIM DE ROSILENE, THE RENEGADES OF PUNK, MERDA DE MENDIGO e GEE-O-DIE (hc casca grossa curto e grosso, mais na tradição do que sempre foi feito cidade), SONNET (rock alternativo), PLÁSTICO LUNAR (psicodélico) NAURÊIA e MARIA SCOMBONA (regional) , THE BAGGIOS (Blues-rock), MAMUTES (Hard rock “setentista”), BAD SNAKE (Hard rock “oitentista”) e NANTES (folk rock), dentre outros.O front do metal seguiu firme, com nomes egressos da década de 90 se mantendo em evidencia, como SCALET PEACE (doom metal), TCHANDALA, FINITUDE e ALIQUID (metal tradicional), BERZERKERS e IMPACT (Thrash), NUCLEADOR (Crossover), INRISÓRIO (Death/grind), SIGN OF HATE (Death Metal) e MYSTICAL FIRE (black metal), este ultimo com uma mise-em-scene de palco impressionante, com direito a cuspidas de fogo e cabeças de porco como cenário.
Não saberia dizer até onde as pessoas que estão ajudando a fazer o rock sergipano hoje em dia foram influenciadas ou, sequer, conhecem os esforços que foram empreendidos no passado para a construção desta pequena porém orgulhosa cena. O que importa é que a chama continua acesa e assim permanecerá. Mudará de forma, se adaptará à passagem do tempo, mas nunca se extinguirá.
Por Adelvan Kenobi





UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA
Dengue? Gripe suína? Esqueça! A mais corrosiva pandemia diagnosticada entre nós atende pelo singelo nome de banda cover.
Essa doença degenerativa está ligada, desde a sua obscura origem, ao aparecimento de um resistente fungo mutante. Com o tempo esse fungo adquire forma humana, mais especificamente a aparência de um músico. Porém, mesmo sob esta ingênua aparência, o fungo não esconde a real natureza de sua essência rastejante: o parasitismo.
Sim, um fungo parasita que se alimenta do repertório alheio - geralmente de bandas consagradas que atendem ao medíocre gosto médio de um público perniciosamente mimado e pretensamente "antenado".
O contágio do fungo é perverso de tão simples. consiste na exposição de seu ego inflado com gases fecais em autênticas gincanas masturbatórias caça - níqueis, para um auditório infestado de zumbis aspirantes a figurantes de "Malhação", enquanto camufla uma aguda incapacidade cognitiva e musical. As asquerosas consequências desta lepra para o já sofrível "cenário" pop sergipano atingirão, em curtíssimo prazo, níveis irreversíveis de depauperação...
Banda Cover é cabotinagem da grossa. Coisa de mercenário zé-ruela que paga mico de roqueiro de proveta nos finais de semana pra papar grana fácil e impressionar aquele pitboy coleguinha de cursinho que ele tá doido pra dar o cu.
Querem mexer com grana? Vão trabalhar na Casa da Moeda, seus filhos da puta! Talento para serviço burocrático vocês, que "tocam" em bandas cover, já provaram que têm de sobra! Não é de copiar nota por nota do músico "da hora" que vocês conseguem uma ereção em suas cuecas com enchimento, seus canalhas? Então vão trabalhar com máquina de xerox! Pelo menos é dinheiro ganho honestamente.
Deixem a música pra quem tem compromisso com processo criativo, finalidade última de toda arte verdadeira. O buraco e o motivo pra se montar uma banda são mais embaixo, meu nêgo! Mas, a vaidade fala mais alto, e nada como se sentir, nem que seja por algumas horas, igual àquele puta músico que vocês nunca serão, já que são apenas e tão somente fungos adestrados a serviço do comércio e da necrofilia musicais.
Aos que já se arriscam ao saudável hábito de uma mais que bem vinda quarentena, resta unir nossas vozes em um trovejante ranger de dentes: PAU NO CU DAS BANDAS COVER!!!!
Se bem que - o que é pior ! - periga de elas gostarem...

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COLEÇÃO DE VIAGENS ESPACIAIS

A viabilidade da boa música alternativa sempre encontrou árduos obstáculos. Principalmente em locais considerados "periféricos", como é o caso da terra do tal papagaio das asas douradas. Ainda mais agora que, não bastasse o obtuso comodismo do consumidor de rock, a própria maneira de se usufruir música passa por um momento muito complexo de transição.
Toco neste incômodo assunto porque, não obstante estas e outras não mencionadas pedras no caminho, é com a empolgação de um nerd virgem no meio de um baile funk que testemunho que a banda aracajuana Plástico Lunar continua se negando a fazer concessões e nos presenteia com o implacável "Coleção de viagens espaciais".
Para quem já tem lugar cativo no tapete mágico da Plástico desde os cds demo, sacou que neste aguardíssimo disco de estreia temos uma banda mais insana, chapada, brutal e, por que não dizer experimental - aliás, ponto positivo para o produtor, e também tecladista da banda, Leo Airplane, que conseguiu com muita maestria dar densidade e coesão à vasta gama de informações sonoras que o disco possui.
Desde a nova roupagem jazística para a espertíssima faixa de abertura "Moderna", até a colagem lisérgica, não creditada, que encerra o trabalho, ficamos convencidos de que estamos diante de uma perene obra-prima.
Mesmo consciente da tarefa ingrata que é apontar os destaques de toda grande obra, vale mencionar o baixo matador de mestre Bicho Grilo, e o puta vocal rasgado do drummer hero Odara no clássico instantâneo "O banquete dos Gafanhotos". Lamento apenas o projeto gráfico pouco inspirado, além da injustificável e criminosa ausência da minha Plástico song preferida: "Fungos" (levemente "citada" na já mencionada colagem que encerra o petardo...).
Mas nada disso ofusca a excelência musical desta que é, tranquilamente, uma das melhores bandas brasileiras em atividade. Aproveite um dos poucos motivos pra se orgulhar de ser sergipano, esqueça de apertar o cinto, e boa viagem...
Por Carlos Lee Hooker


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ERAMOS FELIZES, SABIAMOS MAS FAZER O QUÊ?


Talvez você não lembre ou não saiba, mas Itabaiana já teve o seu CBGB's. Estou falando do saudoso Casa Grande. É certo que não tinha o clima urbano-decadente do original novaiorquino - era até meio arborizado, mais pra cara de filme havaiano do Elvis; muito menos havia o Television quebrando tudo no palco. Porém, lá presenciamos algumas das melhores performances não oficiais da história, como o dia em que Geninho, lenda urbana local, caiu literalmente de boca (urgh!) no chão do recinto depois de mais um de seus comas alcoólicos. Ou daquela vez em que Ricley abriu uma buceta no próprio queixo depois de um mosh kamikaze. Bons tempos! Só não me pergunte quem tocava enquanto o Ricley gemia, já que as bandas eram um detalhe. É claro que tinha Plástico Lunar, Urublues, Snooze; porém, quem ligava para as demais bandas quando tinhamos uma vintena de Iggys Pop na platéia!? Até a lenda viva Adilson, o Jackson Pollock do agreste, teve o seu dia de fúria, ao descontar o desgosto de um coração partido em uma pobre e indiferente cadeira. Inclusive, deixo aqui meu testemunho de que, com este depredante desabafo, Adilson é de fato e de direito o verdadeiro criador do movimento Emo. Porém, como diria o padeiro da esquina e aquele beatle com cara de professor de química : "o sonho acabou". Um dia ficamos sabendo que o nosso Vaticano, a nossa Meca, o nosso Muro das Lamentações iria fechar para, segundo o proprietário, passar por uma reforma que o transformaria em um lugar mais... como direi... "familiar". Anos depois, os desocupados de Itabaiana ainda sentem o baque, já que de lá pra cá nenhum local substituiu o velho Casa Grande a altura, e tudo ficou melancolicamente disperso. Uma pena! Um novo espaço seria mais que bem vindo, mesmo que para isso eu tivesse que ver de novo aquele moicano seboso do Badaró atrapalhando meu campo de visão. Penso que valeria o sacríficio...
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SOBRE GAROTAS, DISCOS E O TÊNIS VERMELHO:
Porra, velhinho! Como é gratificante ver uma banda da terra surgir com um trabalho tão afiado como este “Sobre garotas, discos e o tênis vermelho”, do trio Rockassetes. Desde a eficiente arte gráfica, passando pela competente produção – que tem como mérito realçar a excelência instrumental (com destaque para os arranjos vocais e para o baixo do grande João Melo), o disco dos moleques funciona redondinho. O cardápio é para todos os gostos: ta querendo reconquistar a ex? Tente “Eu deveria te esquecer.” Quer arranjar um pau com a vizinhança? Coloque “Fique longe de mim” no volume máximo. Não suporta a sogra? Vá de “Sogra boa é aquela com boca de aranha”. Na boa, eles mesclam como poucos as harmonias beatle, as filigranas psicodélicas e a cadência nervosa do mod; com a vantagem de, com a “pitada” Rockassetes, deixar tudo deliciosamente dançante, radiofônico (isso se tivéssemos rádios decentes...). E para quem acha que a banda peca nas letras, que tal sacadas como “Eu não sei porque/ Alguns Nascem pra você” (da faixa “Sobre mulheres e vinis”), ou “Estou tentando decifrar/ Os códigos do teu olhar” (da grudenta “As flechas”)? É isso aí, simples sem ser simplista. Sim, terráqueos, é um disco sobre garotas, discos e o inconfundível tênis vermelho. Mas é também um disco sobre o quanto o bom e velho rock ainda pode ser divertido e rejuvenescedor...

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Parafusos a mais:
O rock deve ser mesmo um vírus incurável. Só assim para explicar como Sergipe – o maldito papagaio das asas douradas e lugar tão pouco fértil para alimentos do espírito – ainda consegue parir bandas que não fariam vergonha a qualquer cena musical, de onde quer que seja. Não é o caso aqui de separar o joio do trigo; isso acontece por si só. O que está em jogo aqui é entender que só tendo algum parafuso a menos pra levar o tesão adiante. Ou parafusos a mais, pois só com muitos parafusos a mais é possível driblar a mediocridade reinante dos que se orgulham de seus parafusos “no lugar”. Mediocridade esta que se torna mais nociva quando contamina o próprio público de rock, e este passa a achar normal o vicioso ciclo de depauperação de locais apropriados, má divulgação de eventos do segmento, amadorismo no trate para com as bandas, e um conseqüente fastio comodista para absorver o trabalho de bandas com repertório próprio. Mas não há de ser nada. Enquanto houver um maluco disposto a gastar os últimos centavos em uma guitarra vagabunda, ainda será o caso de se manter a fé, já que sem atrito o homem não teria descoberto o fogo. Qualidade musical já está mais do que provada, falta apenas e tão somente um espaço geográfico a altura. Graças a Deus, em Sergipe o roqueiro continua não sendo um estéril produto do meio. Amém...

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Pegando um punga:

Se toda vez que você ouve falar em bandas no formato guitarra/bateria vem à sua cabeça o nome dos insossos gringos do White Stripes, penso que é a hora de você se informar melhor. E não precisa ir muito longe. Logo ali, sob os históricos alicerces de São Cristóvão, dois figuras, na contra-mão de todos os modismos possíveis, resolveram fazer hard blues de primeiríssima qualidade. Se fosse o caso de eu cair na desconfortável armadilha das comparações, diria que o Baggios está mais próximo da dinâmica de outros autênticos expoentes no segmento Black Keys. Mas os sergipanos possuem feeling próprio e dispensam comparações, seja pelo Júlio Andrade – que além de um puta guitarrista tem um vocal adequadamente despojado, lembrando, por vezes, os melhores momentos do eterno Maluco Beleza e evitando assim alguns maneirismos constrangedores que muitos vocalistas brancos de blues se atolam ao tentar imitar os grandes mestres negros... _, seja pelas letras espertíssimas, que estão anos-luz da patacoada boca-suja e/ou pretensiosa da grande maioria das bandas. E aqui cabe um porém: que o Baggios deixe de lado a idéia de compor em inglês, já que, no caso deles, a língua mãe fica muito bem – coisa rara no estilo. Quer conferir? Ouça o disco com dez faixas que eles lançaram com a produção iluminada do grande Leo Airplane (que ainda envenena o som dos caras com o seu teclado em duas faixas do disco!) e descubra que o Mississipi, muito mais do que um lugar nos confins dos Estados Unidos, é um vital estado de espírito. Oh yeah!!

ELETRORGASMO
A última vez que eu vi o Mamutes em ação foi no Rock Sertão de dois mil e dez. A princípio o impulso de afastar algumas teias de aranha dos meus bolsos, e rachar a gasolina com os comparsas, nasceu do tesão de ver a apresentação do Mopho, a única banda – excetuando os Smiths, claro – que já me fez chorar de emoção. É, mas a manada literalmente roubou aquela noite; inclusive colocando uma derradeira pá de cal na morna impressão que eu tive de um antigo cd demo deles. Senhora banda de palco. Durante o ataque sonoro dos caras eu devo ter destruído umas três guitarras imaginárias. E todas importadas! Caralho, dez reais de gasolina e três Telecaster imaginárias. Porém tudo vale a pena quando o assunto é dar uma bela enxaguada na alma...
Quatro estações depois e eis que esse glorioso comboio de desajustados me aparece com uma granada de mão batizada com o estupendo título de “Eletrokarma”, desde já considerado como mais um capítulo vital na história da música feita em Sergipe. Capítulo escrito com sêmen, sangue e bílis, esfregados apropriadamente nas fuças desse moleque mimado que virou o tal rock nacional.
Isto não quer dizer que no stoned–rock matador que a banda nos presenteia em dez faixas rigorosamente brilhantes não haja espaço para filigranas de sofisticação, como a que encontramos na atmosfera soturna de “Os olhos da cobra”; ou na deliciosa levada disco retrô – com direito a sopros! – da espetacular “Tudo no seu tempo”. Ou mesmo em elementos pouco usuais para uma banda de hard–rock, como o uso de castanholas na emocionante “Noturna”. Casca–grossa pode até ser, baby, mas com estilo! E quando nos deparamos com a minha canção Mamutes preferida, “Te deixando meu bye bye”, não é de perguntar se não estamos frente a frente com a rock song do ano? Quanto às letras, o teor obsessivo de alguns temas faz com que exista um tom quase conceitual no disco. Constantemente os versos desfilam uma peculiar fauna de olhos que seduzem e/ou hostilizam; paraísos artificiais; a Noite, com o que há nela de alento e perigo; garotas que trazem o que há nelas de alento... e perigo. Tudo isso numa embalagem que, por si só, mereceria um texto a parte, pois a arte gráfica do banquete é coisa de gênio.
Nada disso faria muito sentido não fosse a coesão desconcertante dos músicos envolvidos, que vai desde o alcance interpretativo saborosamente canalha do vocalista Karl dy Leon, seguro tanto nos timbres mais rasgados quanto nas notas guturalizadas. Passando pelos riffs e solos econômicos do não menos inflamado guitarrista Rick Maia; pela condução superlativa das quatro cordas de Tiago Sandez, até chegarmos à já folclórica maestria do drummer–hero número um: mestre Odara – que chegou a concluir as gravações antes de, infelizmente, desfalcar a banda.
E o que antes era “apenas” uma senhora banda de palco agora também celebra a honra de ser uma puta banda de estúdio. Se depender de registros como este “Eletrokarma”, não há era glacial que consiga extinguir esses mamutes...
Nathanael Zuckerman.

Dando Muito Certo
Como os fãs do Coverama (acredite, eles existem) já devem estar cansados de NÃO saber, há um bom tempo o rock sergipano vem demonstrando, em seus variados estilos, uma gradativa e palpável consistência. Seria a chegada da tão sonhada Era de Ouro do rock local? Ignoro. Talvez seja muito cedo para este tipo de especulação. Além do mais, já foram vistos tantos náufragos nessa tormenta eterna...
Bom, fato mesmo é que o termo “evolução” se encaixa com mais pertinência entre as viúvas de Charles Darwin e os jurados dos desfiles da Sapucaí. Mesmo assim não me abstenho de testemunhar que o hard-blues enfurecido desta dupla sancristovense atingiu em seu debut oficial níveis próximos aos de grande arte.
Como as linhas que seguem serão preenchidas com a mais mal dissimulada babação de ovo, nem vale a pena comentar a capa canhestra no melhor estilo samba do chá de cogumelo doido. Muito menos reparar nos caras vestidos para algum evento Cosplay, num modelito do tipo Luke Skywalker-fazendo-cara-de-paisagem-sob-o-sol-inclemente-de-Tatooine. Tolice. O que realmente interessa é que, sob uma cozinha extremamente sólida e fluente – cortesia do baterista Gabriel -, “The Baggios”, o disco, desfila aquela que é, provavelmente, a mais fodida coleção de riffs de guitarra em um mesmo trabalho desde o “Stop talking about music”, última (será?) obra-prima do imortal Thee Butchers’ Orchestra. Não bastasse este atordoante detalhe, temos um vocalista no auge de seu carisma interpretativo; mostrando um delicioso despojamento que não deve ser confundido com desleixo. Não se engane, por trás de uma voz aparentemente limitada, esconde-se um cantor incisivo e bastante peculiar. Coisa que não se encontra em qualquer esquina.
Espertos como só eles, a dupla cuidou pessoalmente da produção da obra com invulgar esmero (reparem, por exemplo, na beleza que ficou “Oh cigana”, minha faixa preferida), bem como recrutou um time de primeira para os afiados arranjos de sopro que iluminam algumas faixas; além de contar com as honrosas presenças do maior arroz-de-festa do rock sergipano, mr. Leo Airplane, em suas costumeiramente brilhantes intervenções de teclado – e uma mão na mixagem – e de Hélio Flanders, frontman da banda Vanguart, dividindo com Júlio os vocais na dylanesca “Morro da saudade”. O resultado de tudo isso é o que aconteceria se Robert Johnson sobrevivesse tempo suficiente para fazer uma Jam no também saudoso CBGB’s. Pensando bem, é mais que isto: é The Baggios tocando música The Baggios.
No mais, é curioso notar que Júlio abre este bálsamo sonoro cuspindo o seguinte verso: “As coisas não estão dando certo pra mim.” Parafraseando o nosso Dirty Harry tupiniquim, eu diria que o senhor é um fanfarrão, seu Júlio! Um fanfarrão!! Se as coisas não estão dando certo pra você, que desde já pode se ufanar de ter em seu currículo um clássico instantâneo como este, pra quem estará?!?
Carlos Lee Hooker.




comentários: 1

programa de rock :

Excelentes textos. Concordo com tudo - com exceção da ressalva à arte grafica do disco da plástico, que achei bacana.